Segundo pesquisa realizada em 2007 pela Apeoesp, 93,3% dos casos de violência no ambiente escolar são praticados por alunos.
Em
junho de 2011, a professora Ginoveva Soares, 58 anos, foi abordada
pela mãe de um aluno quando chegava à escola em que trabalhava, em São
Paulo. Acompanhada de familiares, a mãe passou a agredir a educadora,
quebrando seus óculos e desferindo diversos pontapés. “A família formou
um cordão de isolamento em volta de nós duas, e foi a irmã dela quem a
separou de mim. Isso me abalou extremamente, tive de me afastar da
atividade escolar. Me dá uma revolta muito grande”, conta Ginoveva.
Se
o projeto de lei 3.189, apresentado este ano pelo deputado federal
Junji Abe (PSD-SP) for aprovado, agressões como as sofridas pela
professora Ginoveva receberão punições mais severas. O projeto modifica
os artigos 121,129,146 e 147 do Código Penal Brasileiro, com a
alteração no primeiro artigo qualificando os homicídios cometidos na
unidade escolar ou adjacências e elevando a pena de detenção de seis a
20 anos (homicídio simples) para de 12 a 30 anos (homicídio
qualificado).
As
modificações nos artigos 129 e 146 determinam, respectivamente, o
aumento da pena em um terço se o crime ocorrer nas escolas e seus
arredores e a aplicação cumulativa, e em dobro quando o delito for
cometido por mais de três pessoas, com o emprego de armas ou ocorrido
também no ambiente escolar e adjacências. Por fim, a transformação
proposta no artigo 147 prevê o aumento da pena pela metade se o crime
for cometido contra servidores, professores ou colegas de
estabelecimento de ensino.
Segundo
o deputado autor do projeto, não existe previsão de aprovação em curto
prazo. “Eu entendi que nós tínhamos que apresentar alguma solução
imediata em defesa dos funcionários responsáveis pelos estabelecimentos
públicos de ensino, mudando alguns artigos do Código Penal vigente.
Infelizmente, não há nenhuma garantia em termos de prazo para aprovar o
projeto, pois o Poder Executivo publica a MP e ela precisa ser
analisada pela Câmara e pelo Senado, tendo que ser aprovada no prazo de
90 dias”, afirma Abe.
Apesar
de não haver estatísticas nacionais sobre a violência nas escolas,
alguns sindicatos estaduais já fizeram levantamentos que ajudam a
conhecer melhor a situação dentro do ambiente escolar. Segundo pesquisa
realizada em 2007 pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo (Apeoesp) com 684 professores filiados, 93,3% dos
casos de violência no ambiente escolar são praticados por alunos. Os
principais fatores que contribuem para a atual situação são a
superlotação das salas de aula e a aprovação automática dos alunos.
Entre os entrevistados, 56% admitiram conhecer casos de pessoas armadas
dentro da escola, e 77% têm conhecimento de consumo de drogas no
ambiente escolar.
Mais diálogo
Para a presidente da Apeosp, Maria Izabel Noronha, o impacto do projeto será pequeno, já que as brechas nas leis permitem que a punição não seja efetivamente cumprida. Segundo ela, alternativas que estabeleçam o diálogo entre alunos e professores devem ser priorizadas.
Para a presidente da Apeosp, Maria Izabel Noronha, o impacto do projeto será pequeno, já que as brechas nas leis permitem que a punição não seja efetivamente cumprida. Segundo ela, alternativas que estabeleçam o diálogo entre alunos e professores devem ser priorizadas.
“Nós
temos que fortalecer a gestão democrática, com persuasão para resolver
os conflitos e trabalhando com as diferenças. Medidas como a do
professor mediador, por exemplo, que existe há dois anos, já encontram
profissionais interessados em mediar conflitos, conversar com o aluno.
Não adianta atuar sobre a violência, pois isso gera mais ostensividade:
se você trabalhar com uma forma de mediação, a situação já terá outro
tom. Projetos de lei como esse são importantes pelo debate que suscitam,
mas eu não acredito que só a vontade penal resolva. Na verdade, ela dá
força para os conselhos escolares, que remetem o problema ocorrido
para o órgão colegiado, que por sua vez indica uma punição”, diz Maria
Izabel, que atenta para uma estabilização dos índices de violência
dentro do ambiente escolar, apesar dos constantes casos de agressão
dentro das escolas.
Filho
de Ginoveva, Sinval Soares, 27 anos, também é professor da rede
pública de ensino. Apesar de não ter sido vítima de violência dentro de
uma sala de aula, o professor de artes já presenciou casos de pais que
agrediram seus filhos em uma reunião escolar, na frente de professores e
da diretora da escola, por exemplo. “Como professor e como cidadão, eu
concordo com o projeto de lei, pois mesmo que a gente trabalhe com a
parte de conscientização, as pessoas precisam ter uma base de
referência. Enquanto não houver essa consciência, imagina quanto os
professores não vão sofrer com a violência”, afirma.
Para
Ginoveva, apesar de não ser garantia do fim das agressões no ambiente
escolar, o projeto pode ser uma forma de diminuir os casos de violência
nas escolas. “Eu acho que algo deve ser feito, e se essa for uma forma
de intimidar as agressões e aplicar a lei, já é um passo, mesmo que de
formiga, para construir um país diferente”, defende.
Mais investimentos
Também vítima de agressão dentro do ambiente escolar, a professora e diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Idalina Franco de Oliveira, 54 anos, destaca o trauma pelas agressões. “A aluna era maior de idade, me agrediu física e verbalmente, também me ameaçando de morte. Eu fiquei seis meses de licença médica. Mas hoje ela está recuperada, é uma aluna normal, respeita o ambiente escolar. Ela reconheceu que estava errada e me pediu desculpas”, diz a professora, que acredita que a mudança da situação de violência no ambiente escolar vai muito além de novas leis punitivas.
Também vítima de agressão dentro do ambiente escolar, a professora e diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Idalina Franco de Oliveira, 54 anos, destaca o trauma pelas agressões. “A aluna era maior de idade, me agrediu física e verbalmente, também me ameaçando de morte. Eu fiquei seis meses de licença médica. Mas hoje ela está recuperada, é uma aluna normal, respeita o ambiente escolar. Ela reconheceu que estava errada e me pediu desculpas”, diz a professora, que acredita que a mudança da situação de violência no ambiente escolar vai muito além de novas leis punitivas.
Para
Idalina, o maior investimento por parte do poder público em educação é
fundamental para a diminuição dos casos de agressão de alunos e seus
familiares a colegas e professores. “A violência é gerada pela falta de
investimento: eu já perdi diversos alunos para o tráfico de drogas, e
isso ocorre porque não há investimento em educação. Os governantes
precisam agir nesse sentido, não adianta apenas punir”, afirma.
Fonte: Terra
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