Manchete do jornal sobre evasão escolar |
A
manchete do jornal O Poti/Diário de Natal deste domingo, dia 10, me
chamou muito a atenção: “Evasão e desestímulo são retrato do ensino
médio”. Como professora, o tema da educação pública para mim é uma
prioridade. Os dados chocantes trazidos pelo jornal são do Censo Escolar
divulgados pelo IBGE e mostram que a evasão no RN chega a 19%. Além
disso, 56,20% das pessoas com 10 anos ou mais tem apenas o Ensino
Fundamental e metade dos jovens com 19 anos disseram não ter concluído
essa etapa escolar. Para mim, é revoltante ver a educação pública nesta
situação, e mais revoltante ainda foi ler a explicação da secretária
estadual de educação, Betânia Ramalho, sobre o fato.
Na
matéria, a secretária culpa a greve dos professores de 2011 pelo alto
índice de evasão escolar. Uma atitude, inclusive, muito comum em se
tratando do governo de Rosalba Ciarlini (DEM). Betânia Ramalho foi
enfática ao dizer que a greve de mais de 80 dias do ano passado foi o
primeiro fator prejudicial. “Ora, se a escola não é tão atrativa,
agradável, interessante nem motivadora, tudo que se mexe é prejudicial,
imagine uma paralisação de quase três meses?”, diz a secretária em um
trecho da matéria. Em 2011, durante uma audiência pública na Assembleia
Legislativa, falei do absurdo que era uma secretária minimizar os
problemas da educação e atribuí-los a “imediatismos”, apresentando
“projetos de longo prazo” e solicitando “paciência”, alegando para isso o
fato de estar no governo há pouco tempo. Treze meses depois e diante de
um cenário inalterado, me sinto desafiada a voltar a responder às
incongruências do governo.
Em
primeiro lugar, quero repetir que a greve dos trabalhadores é apenas
uma pequena parte da bomba relógio que a é educação pública neste país.
Em segundo lugar, repito que a greve é essencial para que a sociedade
tome conhecimento do sistema caótico a que nós e nossos alunos estamos
submetidos diariamente. Se não há greve, tudo parece estar em ordem e as
pessoas acreditam na farsa apresentada em propagandas de TV. Em
terceiro lugar, quero dizer que não admito que governo algum desmoralize
a nossa luta em defesa da educação pública, utilizando-a como
justificativa para a sua própria incompetência, ingerência e indiferença
em relação aos problemas denunciados em nossas greves, mesmo que o
fizesse de forma subliminar.
A
secretária continua achando secundário falar sobre os problemas “que
todos já conhecem” e, nesse exercício de silêncio, parece acabar se
convencendo de que eles realmente não existem. As escolas públicas do
estado continuam com os mesmos problemas de sempre. Nada mudou, nem com
os governos passados nem com o atual. Na verdade, a evasão é alimentada
todos os dias pelo descaso histórico deles.
Hoje,
há muitas escolas no RN em que os alunos do Ensino Médio tem apenas
dois ou três dias de aula por semana. Isso porque as direções se
desdobram para contornar o caos e fazem rodízio de turma por falta de
professor. Se fizermos um cálculo rápido, vamos perceber que essas
pessoas assistem a, no máximo, 144 dias de aula por ano. Uma vergonha! E
agora eu pergunto: que estudante pode se sentir estimulado a freqüentar
uma escola em que não tem professor de Português, de Química ou de
Matemática, estando às vésperas do vestibular? E se quando esse
professor chegar, as aulas forem suspensas por um problema na bomba
d’água ou por um apagão causado pela rede elétrica velha perigosa?
Quantos alunos vão resistir a essas e tantas outras provas de paciência?
O
governo, através de Betânia Ramalho, escolheu a greve como um bode
expiatório para esconder a própria responsabilidade com o abandono da
educação pública. A greve dos professores durou mais de 80 dias por
culpa do governo do estado, que foi intransigente com nossas
reivindicações e insensível com os alunos, como continua sendo. E
insistem em tamanho cinismo. Quero ainda aproveitar para dizer porque as
pessoas desistem de estudar.
As
pessoas desistem de estudar porque não estão com a vida ganha e não tem
tempo a perder “brincando de ir à escola”. Se a escola não conta com a
sua estrutura básica: professores, carteiras, água, luz, elas tem mais o
que fazer e vão procurar um emprego. As pessoas desistem de estudar
porque vêem os seus professores, cuja dura rotina elas conhecem bem,
fazerem uma greve de 81 dias, para no final receberem um salário que
elas podem receber como um profissional autônomo, mesmo que não tenha
concluído o Ensino Fundamental. As pessoas desistem de estudar porque o
governo do estado faz um boicote ao ensino público. Depois, cobra que
sejamos os redentores e redentoras do país. Com um quadro caótico desses
na educação, dizer que a evasão escolar é culpa da greve dos
professores é mais do que uma mentira, chega a ser uma provocação.
FONTE: http://professoraamandagurgel.blogspot.com.br/2012/06/o-governo-e-o-verdadeiro-responsavel.html
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